Terapia desenvolvida na Unicamp promove melhorias sensoriais em pacientes que sofreram AVC.

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Sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) é sempre um acontecimento difícil na vida de suas vítimas. Além do susto e complicações momentâneas, as sequelas podem ser severas e duradouras. Por atingir o cérebro, o AVC pode causar paralisia ou dificuldade de movimentação dos membros, problemas na fala e diminuição da visão. A recuperação é lenta, difícil e, muitas vezes, parcial.

Mas um tratamento simples e barato, desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pode facilitar esse processo árduo de reabilitação pós-AVC. Tratando o lado não afetado dos pacientes com apenas água e gelo, fisioterapeutas obtiveram resultados positivos.

cubos de gelo

A terapia foi testada no Hospital de Clínicas da Unicamp em 27 pacientes que sofreram AVC: ao inibir menos o hemisfério cerebral responsável pelo lado atingido, a recuperação se tornou mais fácil.

O AVC acontece em um dos hemisférios do cérebro, paralisando o lado do corpo que essa parte do órgão controla: o hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo, e o direito é responsável pelo lado esquerdo. Os tratamentos convencionais são dirigidos ao lado atingido da pessoa, que teve as funções motoras e sensoriais prejudicadas, mas não se voltam para o lado não afetado.

O lado bom

A técnica desenvolvida pela fisioterapeuta Núbia Maria Freire Vieira Lima consiste na imersão em água com gelo por 20 minutos da parte superior do corpo considerada boa do paciente, causando uma hipotermia na área: punho e mão não afetados são colocados em contato com a água a uma temperatura entre 8ºC e 15ºC.

“O objetivo desse procedimento é diminuir as atividades sensoriais do lado não atingido do paciente. É como se os receptores sensoriais se desligassem”, explica Lima. No dia a dia, para realizarmos atividades simples, como escrever, por exemplo, um hemisfério do cérebro inibe a atividade do outro. Após um AVC, essa inibição é exagerada, causando dificuldades motoras e sensoriais em um dos lados.

“Com essa terapia, o hemisfério cerebral responsável pelo lado que é exposto à hipotermia diminui sua atividade, aliviando a inibição que ele causa na parte do cérebro que sofreu AVC”, completa.

Lima: “Com essa terapia, o hemisfério cerebral responsável pelo lado que é exposto à hipotermia diminui sua atividade, aliviando a inibição que ele causa na parte do cérebro que sofreu AVC”

Desse modo, ao inibir menos o hemisfério cerebral responsável pelo lado atingido, a recuperação se torna mais fácil. A técnica desenvolvida pela fisioterapeuta pode auxiliar os tratamentos atuais pós-AVC, que visam à recuperação sensorial e motora do paciente. “Trata-se de uma terapia complementar, que não funciona isoladamente”, alerta. “O processo agiliza e intensifica a recuperação desses pacientes.”

Lima explica que, apesar de simples, a terapia deve ter acompanhamento profissional. “Enquanto a parte não afetada sofre hipotermia na água, o lado atingido precisa ser trabalhado, com exercícios que estimulem as funções motoras e sensoriais”, esclarece. “Além disso, o tempo em que a mão e o braço ficam na água fria deve ser controlado, pois, em excesso, pode provocar queimaduras e lesões nervosas no local.”

O procedimento foi testado no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp em um grupo de 27 pacientes que sofreram AVC. Todos os pacientes trataram o lado atingido com a prática de exercícios, mas apenas 13 foram submetidos simultaneamente à técnica de hipotermia. Foram esses 13 pacientes que apresentaram melhor progresso durante o tratamento.

“A recuperação deles foi mais rápida e notável”, conta a fisioterapeuta. “Após o tratamento, eles conseguiram realizar movimentos simples, como fechar um zíper e levar um talher à boca”. A técnica também foi testada em pessoas sem qualquer problema de saúde para verificar se apresentavam alguma alteração na frequência cardíaca e pressão arterial. “Nada foi constatado, o que certifica a segurança da terapia.”

Fonte:  Lucas Lucariny – cienciahoje.uol.com.br/

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